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Documentário sobre a Parada LGBT de Sergipe: muito mais que um vídeo

Quando voltei a trabalhar na ONG Astra LGBTQIA+, em 2021, comecei a ter uma identificação criativa com os membros da instituição Rogério Fernandes, a assistente social Maria Eduarda Marques e o advogado Gladston Passos. Em nossos papos, dentro e fora da Astra, surgiam várias ideias para produções audiovisuais. Eram programas para o YouTube, podcast, lives, enfim muitas coisas legais, mas que sempre esbarravam na falta de recursos. Mesmo assim, conseguimos transformar algumas delas em projetos reais, como as animações da “Astrexa”, uma paródia da assistente da Amazon inserida durante a live de fim de ano, em 2020, e o vídeo especial para o Dia Internacional da Mulher, em 2021. Eram produções com muitas limitações técnicas, porém muito inventivas e, o melhor de tudo, feitas com muita vontade e dedicação.


Documentário "Muito Mais que uma Festa", disponível no YouTube

Durante a organização da 20ª Parada LGBT de Sergipe, que seria realizada pela segunda vez de forma virtual, em 2021, Maria Eduarda trouxe a ideia de aproveitar a mídia e mostrar para o público, em forma de documentário, todo o trabalho para levar aquela grande festa da diversidade para a orla de Atalaia. Através de relatos das pessoas que fizeram e fazem parte desse processo, a intenção era também chamar atenção para o caráter político da Parada, antes, durante e depois do cortejo na avenida.


Nos bastidores, criatividade para contornar a falta de recursos, com a apresentadora Náline Machado (esquerda)

Começamos então a esboçar o roteiro para os vídeos que seriam exibidos durante a transmissão da 20ª Parada pelo YouTube. Depois disso, Maria Eduarda e Rogério saíram em busca dos entrevistados, um exercício de paciência e persistência para alinhar a disponibilidade de todos, alguns mais afastados do movimento e menos acessíveis, outros ocupados em seus trabalhos. Tínhamos também as passagens com o texto narrativo e decidimos que elas seriam todas gravadas em locações externas, para dar um tom otimista de possível volta do evento às ruas no ano seguinte.


Maria Eduarda segura o "teleprompter" escrito à mão e Rogério coloca o microfone "de lapela" na apresentadora

Naquele ano, a Astra passava por mais um período financeiro difícil. Os projetos financiados tinham se encerrado e toda a equipe trabalhava voluntariamente. Os novos financiamentos aprovados pelo Governo estavam paralisados por conta do atraso na aprovação da Lei Orçamentária de 2021. O dinheiro no caixa da instituição só dava para cobrir as despesas essenciais da sede. E foi nesse cenário e com muita criatividade que nós, produtores audiovisuais amadores, encaramos as gravações dos vídeos.


Orçamento zero e cronograma apertado: gravações iam até a noite

Nosso maquinário de filmagem consistia em dois smartphones (o meu e o outro de Rogério), um cansado tripé com ring light, depois providencialmente substituído por um mais estável, emprestado pela amiga Elisângela Valença. Como microfone “de lapela” nós usamos o headset do smartphone, amarrado cuidadosamente por dentro da roupa da apresentadora para não aparecer. A lousa de avisos da sede da Astra transformou-se no nosso “teleprompter” – uma pessoa ficava encarregada de escrever e apagar os blocos de texto e outra de segurar a lousa para leitura, nas mais variadas posições. Assim nós passamos os meses de julho e agosto, visitando entrevistados e diversos pontos da capital sergipana para coletar o material do nosso documentário.


Cena do documentário no YouTube

Depois começou meu mergulho solitário no intrincado quebra-cabeça da edição. Fazer tudo que fosse possível dentro das minhas capacidades para contornar os inúmeros problemas das limitações técnicas de produção, sendo o maior deles o som. Com prazo apertado, foram dias e noites de dedicação exclusiva à edição e finalização dos vídeos. Nós sabíamos que a qualidade técnica ficaria comprometida, mas acreditávamos muito mais na representatividade do produto final.


Cena do documentário no YouTube

No dia da transmissão da Parada, os bastidores do estúdio estavam um grande caos, provocado por muitos atrasos. Tinha finalizado seis vídeos que seriam inseridos em intervalos regulares ao longo da transmissão pelo YouTube, porém, devido à questão do tempo, só conseguimos exibir dois deles. Terminei o domingo da transmissão extremamente frustrado, já que todo aquele trabalho de meses não tinha chegado ao público. Com a esperança de que a Parada voltaria às ruas no ano seguinte, sugeri à Astra guardar o material e transformá-lo num vídeo único, para ser lançado com a atenção que ele merecia.


Sessão especial no Centro Cultural de Aracaju para exibição do documentário em 2022

Foi isso que fizemos em 2022. Reeditei e finalizei o material para um documentário de 76 minutos, intitulado “Parada LGBT de Sergipe: Muito Mais que uma Festa”. A Astra realizou um evento especial de lançamento na abertura do Circuito do Orgulho, a tradicional programação de atividades educativas e culturais que antecede a Parada todos os anos. Foi uma noite mágica para mim, Rogério, Maria Eduarda e Gladston. Como se os imprevistos do ano passado fizessem sentido e tivessem o propósito de levar nosso trabalho até ali, até a tela grande do auditório do Centro Cultural de Aracaju, com uma plateia presente, tornando tudo mais especial. Ver as pessoas aplaudindo e se emocionando com a história e a importância da Parada LGBT de Sergipe foi uma das maiores recompensas que recebi na vida.


Assista ao documentário completo:



Fotos dos bastidores: Gladston Passos

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