Depois de sobreviver à devastação do primeiro ano da pandemia de Covid-19, eu estava, como o resto do mundo, procurando retomar a vida, na medida do possível. Era início de 2021, já se falava em vacinas e as pessoas estavam ansiosas por retornarem às suas atividades. Numa conversa casual, a amiga e ativista Tathiane Araujo me falou sobre o novo projeto social da Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil (Rede Trans Brasil), ONG que ela presidia na época. Era o “Oportunizar”, uma ação em prol da capacitação e empregabilidade de pessoas trans e travestis em âmbito nacional. Fiquei muito interessado em participar de uma iniciativa tão necessária e Tathiane então me convidou para integrar a equipe do projeto. Contarei mais sobre essa experiência num post próximo.
Trabalhar com a Rede Trans Brasil naturalmente me levaria de volta à Astra, a instituição que abracei no início dos anos 2000, e que me rendeu tantas experiências, aprendizados e grandes amizades. A Astra é filiada à Rede Trans Brasil e as duas entidades compartilhavam o mesmo endereço em Aracaju, então estava tudo “em família”. E eu estava de volta ao movimento LGBTQIA+, após um hiato de 14 anos.
Na Rede Trans Brasil, paralelamente às atribuições do projeto “Oportunizar”, prestei suporte às demandas de comunicação da instituição, que estava muito focada nas redes sociais e site, com diversos eventos on-line, por causa do momento da pandemia.
Além de artes para as postagens mais rotineiras, como informes e denúncias, produzi material gráfico para ações de maior destaque, como a Semana de Visibilidade Trans e o Censo Trans, publicação que traçou o perfil socioeconômico das mulheres transexuais no Brasil.
Já a Astra passava por um período de intensa atividade on-line, por conta da pandemia, realizando campanhas de doação de alimentos para a comunidade LGBT de Sergipe, através de uma série de lives no Instagram e YouTube. Colaborei com a produção de artes e textos para as ações de comunicação pelas mídias sociais, como a “Quarta Legal” e o “Refresco Cultural”, atividades educativas e culturais que aconteciam na sede da instituição e foram adaptadas ao formato digital para manter o contato com seu público.
Era também o ano em que o movimento LGBT de Sergipe completava 40 anos e a Astra realizou um webnário comemorativo. A Parada LGBT de Sergipe chegava ao seu vigésimo ano, de forma remota, através de uma transmissão ao vivo pelo YouTube com mais de 8 horas de shows e entrevistas com artistas e ativistas da comunidade. Havia ainda os projetos sociais executados junto ao Governo Federal, como o "Tire Esta Dúvida" que oferecia auto-teste de HIV para públicos vulneráveis em Aracaju.
No final de 2021, a Astra comemorou seus 20 anos de existência com a festa ASTRA20, realizada no Teatro Atheneu. A celebração reuniu apresentações de diversos artistas, entre cantores, drag queens, performers e bailarinos, além de prestar homenagens a autoridades e personalidades que contribuíram com a história da instituição.
Nesse mesmo ano, Tathiane também me indicou para trabalhar em uma publicação do LGBT Socialista, segmento do Partido Socialista Brasileiro (PSB), no qual ela atuava como secretária nacional. Elaborei o projeto gráfico e diagramei o caderno especial “LGBTQIA+ e a autorreforma do PSB”, material publicado em parceria com a Fundação João Mangabeira.
Foi um tempo de trabalho árduo junto ao movimento LGBTQIA+ e que se estendeu até os últimos dias do ano. Porém, poder contar com o empenho e a dedicação da equipe da Astra, muitas das vezes sem recursos, foi o combustível para ir até o fim, num período tão difícil para todos.